A Revolusolar foi fundada no dia 20 de outubro de 2015, na favela da Babilônia, no bairro do Leme, no Rio de Janeiro, fruto da união de lideranças e eletricistas locais com estrangeiros especialistas em energia solar.
De 2016 a 2019, implantamos instalações solares em duas pousadas e emuma1 escola comunitária nas favelas da Babilônia e Chapéu Mangueira (BCM), no Rio de Janeiro. Ao longo dessa experiência inicial percebemos que poucos domicílios da favela reúnem as condições técnicas e econômicas necessárias para realizar instalações individuais nos telhados. A geração compartilhada via cooperativas foi então percebida como uma solução adequada para atender efetivamente a população local em larga escala. Além de mais viável (técnica e economicamente), é coerentecom a tradição de autogestão e cooperação nas favelas. Ao longo de 2020, desenhamos o projeto de criação da cooperativa local e articulamos as parcerias necessárias para viabilizá-lo.
Em janeiro de 2021, implantamos, na BCM, a primeira Cooperativa de Energia Solar em uma favela do Brasil. A cooperativa foi constituída com 34 famílias fundadoras e uma usina solar fotovoltaica de 26 kWp instalada na cobertura da Associação de Moradores da Babilônia. O modelo de negócio adotado é inspirado em experiências internacionais de democratização da energia solar, e adaptado para a realidade brasileira: a Revolusolar é proprietária da usina, que é cedida, por contrato e gratuitamente, para a cooperativa. A cooperativa cobra pagamentos mensais dos seus membros (50% do total das suas poupanças na conta de serviços públicos), para cobrir as despesas operacionais da cooperativa e garantir a perenidade do projeto.
A cooperativa encontra-se em expansão. Em 2022, instalamos uma usina solar na cobertura de uma creche comunitária (Espaço de Desenvolvimento Infantil – EDI Dona Marcela) no Chapéu Mangueira. A nova planta, de 9,1 kWp de capacidade, beneficia 10 famílias, além de fornecer iluminação à creche. Foi a primeira EDI do Rio de Janeiro com energia solar, um resultado que pode inspirar mudanças sistêmicas nas políticas públicas do Rio de Janeiro. Em 2023 instalamos uma usina solar de 17 kWp e atendimento a 18 novas famílias, na quadra esportiva da Babilônia, uma instituição local de referência.
O planejamento para 2024 inclui novas usinas solares na BCM. A primeira, concluída em março, envolve uma das mais promissoras inovações tecnológicas do setor: é a primeira instalação de telhas solares em favelas do Brasil, com 12 telhas fotovoltaicas da Eternit (que patrocina o projeto). A residência contemplada passará a integrar a cooperativa local.
Também concluímos em 2024 o processo de transferência de gestão da cooperativa para os cooperados, que tiveram apoio e formação para a fazer a autogestão da cooperativa. Existe uma força-tarefa que reúne membros da cooperativa e da Revolusolar trabalhando nesse processo de transição, com mapeamento dos processos, capacitação dos cooperados e transferência de conhecimento sobre gestão dos processos administrativos, financeiros, e de captação. A Revolusolar produziu uma cartilha da cooperativa, que apresenta aos cooperados o conceito de cooperativismo, regulamentação aplicável, governança e direitos do ‘prossumidor’ (produtor e consumidor) de energia no Brasil. Em 2023, foram ministradas capacitações, por meio de 5 oficinas de educação cooperativista. Uma condição para o alcance pleno da transição é a auto sustentabilidade financeira do empreendimento. O ponto de equilíbrio financeiro da cooperativa deverá ser alcançado com cerca de 75 famílias cooperadas, uma meta para o segundo semestre de 2024 (atualmente, no primeiro semestre, são 60 famílias).
Em 2022, a Revolusolar expandiu suas atividades para além da BCM e instalou um sistema solar nas dependências do Circo Crescer e Viver, instituição social que atende famílias de baixa renda do Centro do Rio. Ainda em 2022 iniciamos um projeto na Amazônia, na comunidade indígena da Terra Preta, as margens do Rio Negro, onde instalamos uma usina solar com baterias na Escola Municipal Indígena Arú Waimi. No início de 2024, voltamos à Terra Preta para instalar usinas solares no Centro Comunitário, Centro de Saúde e sistema de bombeamento d’água da comunidade.
Ao final de 2022 e ao longo de 2023, tivemos novos projetos: no Rio de Janeiro – na favela da Maré, em parceria com o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) e no Instituto Anjinho Feliz no centro do Rio -, em Vila Velha (ES), na comunidade de Jabaeté, e na periferia de São Paulo – criação, em parceria com o Instituto Favela da Paz (IFP), da 1a. associação comunitária de energia solar em periferias de SP, um projeto que beneficia o IFP e 50 famílias locais com descontos na conta de luz.
A capacitação profissional, como parte da Metodologia Ciclo Solar, prepara a população local, em sua maioria autônoma ou subempregada, para competir por empregos de qualidade no mercado em expansão da energia solar. Os participantes são certificados como assistentes de instalação solar. O programa inclui cursos ministrados por escolas técnicas credenciadas e profissionais contratados pela Revolusolar. O público-alvo são pessoas de ambos os sexos e todas as raças, com idade entre 18 e 35 anos, com conhecimento completo de ensino fundamental (validado no processo de cadastramento), residentes nas favelas de atuação. Procura-se um equilíbrio racial e de gênero entre os participantes.
Os projetos-piloto nas diversas comunidades têm proporcionado aprendizados que podem ser sistematizados e incorporados em novas experiências em maior escala no país. A Revolusolar busca efetivar essa sistematização e produzir materiais (ebooks, cursos, publicações) que disseminem a nossa experiência e tragam novos atores para a “Revolução Solar”. Consideramos fundamental a incorporação da energia solar social em políticas públicas e programas empresariais do setor energético. Nesse sentido, atuamos em incidência política e relações institucionais com empresas de energia, para oferecer propostas e participar de debates, a fim de promover uma transição energética justa, inclusiva e popular no Brasil.